5 OBRAS DO MESTRE: Edgar Allan Poe #1 - "O Gato Preto"
- Mayara Albuquerque
- 13 de ago. de 2018
- 5 min de leitura
Olá, leitoras e leitores! Como prometido, a série 5 OBRAS DO MESTRE chegou aqui no site novo! Para aqueles que não conhecem, nessa série eu pretendo trazer cinco obras de um autor ou autora, com muitos ou poucos anos de carreira, e falar sobre cada uma delas, desde as minhas impressões à história de publicação e curiosidades de cada uma, sendo que, no primeiro post, eu sempre vou apresentar também um resumo da carreira do autor. E o escolhido para a estréia dessa série foi ninguém menos que Edgar Allan Poe, um dos autores mais influentes do mundo até os dias de hoje. E o motivo da minha escolha, vocês saberão no decorrer desse artigo.

Edgar Allan Poe foi um escritor, editor e crítico literário norte-americano. Ele nasceu no dia 19 de janeiro de 1809, em Boston, e faleceu no dia 7 de outubro de 1849, em Baltimore. Até hoje, a causa exata de sua morte é um mistério, mas devido ao seu estilo de vida não muito saudável e à baixa expectativa de vida da época, sua morte acabou sendo atribuída a um conjunto de fatores, como álcool, drogas, tuberculose, entre outros.

Poe ficou conhecido por seus poemas e contos de mistério, explorando e usando o macabro como temática principal, e é tido como uma figura central do romantismo norte-americano. Além disso, ele é considerado o inventor do gênero policial, tendo um de seus contos servido de inspiração para a criação do icônico personagem Sherlock Holmes (conto este que também será comentado nessa série). Muitos também lhe dão crédito por ter contribuído com o surgimento da ficção científica.

Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle.
Hoje em dia, ele é um ícone da cultura pop, não só na literatura, mas também no cinema, na música e na televisão. Foram feitas muitas adaptações de suas obras, sendo as mais conhecidas aquelas que contam com a participação de um grande nome dos filmes de terror: Vincent Price.

Vincent Price.
Há um filme bem mais atual, chamado no Brasil de O Corvo (não, não aquele com Bradon Lee) cujo nome é baseado no poema mais famoso de Poe (e sua obra mais famosa, em geral). O filme de suspense mistura a vida real do escritor com uma investigação policial fictícia, onde Poe passa seus últimos dias auxiliando a polícia a capturar um serial killer que imita as obras do escritor em seus crimes. Mesmo não sendo um filme biográfico, eu o achei interessante por nos mostrar um pouco de quem Poe era e da situação em que ele vivia na época.

pôster do filme O Corvo.
Independentemente de você gostar ou não do que ele produziu, sua importância para o movimento literário ao qual ele pertenceu e sua influência em tudo o que consumimos hoje em dia são inegáveis.

Grande parte das obras que eu vou mencionar nessa série estão presentes na coletânea Contos de Imaginação e Mistério, da editora Tordesilhas, que compila vários dos maiores contos do Poe, com algumas anotações interessantes. É uma edição muito bonita, de capa dura, com uma diagramação simples, mas muito bem feita, e é muito bem revisada. Ela vem com uma sobrecapa linda, com uma ilustração de Harry Clarke, que também fez ilustrações incríveis para a maioria dos contos presentes nessa coletânea, e que soube retratar muito bem a loucura que era a imaginação do autor. Foi, sem dúvida, uma edição feita com muito cuidado e respeito ao mestre que foi Edgar Allan Poe.
A primeira obra sobre a qual eu vou falar nessa série é o conto chamado O Gato Preto, um dos mais famosos do autor. Eu o escolhi não só por ter sido o primeiro conto que li na vida, mas também por ter sido meu primeiro conto escrito pelo Poe, e o conto que me inspirou a começar a escrever meus próprios contos.


O conto foi publicado originalmente na revista Saturday Evening Post, na edição de 19 de agosto de 1843. Ele é narrado por um personagem sem nome, que conta sobre vários animais de estimação que possuiu, em especial um gato preto com o qual ele era muito apegado. Porém, com o tempo ele, inexplicavelmente, desenvolve uma repulsa a esse gato, e seu comportamento no geral muda, não só com o animal, mas também com sua esposa, e as coisas começam a acontecer a partir daí. Sendo um conto de Poe, é natural que esses acontecimentos sejam bem misteriosos e sombrios.
"Quando a razão me voltou pela manhã - após ter dissipado no sono os vapores do desregramento noturno - experimentei um sentimento que era parte horror, parte remorso pelo crime do qual era culpado; mas foi, quando muito, um sentimento fraco e ambíguo, e a alma permaneceu intocada. Voltei a mergulhar em excessos, e não tardei em afogar na bebida qualquer lembrança do ato."
Como sempre, Poe retrata uma realidade longe de ser perfeita e confortável, e ele faz isso de maneira bem orgânica. Nesse conto, ele aborda o tema da culpa e como ela pode consumir uma pessoa à insanidade. Os personagens são escritos de forma que o leitor se interessa por eles, ainda que eles não sejam, em algumas das vezes, muito corretos e talvez seja essa proximidade deles ao real que nos atraia.
Poe adiciona o sobrenatural a essa realidade com muita destreza, embora ele não deixe muito claro, nessa história, se há mesmo um elemento sobrenatural ali, ou se tudo não passa de várias coincidências estranhas. E é esse mistério, essa dúvida que deixa tudo mais interessante; você entende o que está acontecendo ali, mas não sabe bem ao que atribuir aqueles acontecimentos. Para mim, esse é um dos contos mais intrigantes de Poe, e tem uma premissa bastante interessante que é a de usar toda a superstição ao redor dos gatos pretos para contar uma história. Uma ótima história, por sinal, que não acompanha um herói, mas sim um homem comum rumo à insanidade.
Como era de se esperar, O Gato Preto foi adaptado para o cinema algumas vezes, então vou citar apenas aquelas de mais destaque.
A primeira foi um filme com Bela Lugosi e Boris Karloff: O Gato Preto de 1934, dirigido por Edgar G. Ulmer.

Lugosi participou também de outra adaptação da história para o cinema, em 1941, dirigida por Albert S. Rogell, que também contava com o ator Basil Rathbone no elenco.

Curiosidade: Basil Rathbone já interpretava, nessa época, outro clássico da literatura, pelo qual ele viria a ficar famoso: Sherlock Holmes.

Basil Rathbone como Sherlock Holmes.
Dentre essas adaptações, aquela que é considerada a mais fiel ao conto original faz parte de uma trilogia de filmes do cineasta Roger Corman, chamada Tales of Terror, de 1962, novamente com Basil Rathbone e Vincent Price como protagonista.

Se você é fã de mistério e terror, contemporâneo ou clássico, e ainda não conhece o trabalho de Poe, O Gato Preto é um ótimo ponto de partida.
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